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2.12.14

O Cavalo de Lata [Janice Steinberg]

O-Cavalo-de-Lata-Janice-Steinberg
Ed. Rocco, 2014 - 352 páginas:
      Elaine Greenstein Resnick tem 80 anos e está prestes a se mudar para um condomínio para idosos. Ex-advogada brilhante, antes que Elaine se desfaça de seus arquivos e papéis pessoais, a Universidade de Southern California, interessada em seu acervo, coloca à disposição dela um pós-graduando para ajudá-la a organizar a papelada. De desenhos dos filhos e cartas trocadas com o marido a lembranças da família de origem romena, a protagonista de O cavalo de lata se defronta com uma ferida do passado que a leva a uma surpreendente viagem de volta às suas origens. 

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O que une uma família e faz de uma casa um verdadeiro lar são os laços de afeto. Ainda que ocorram desentendimentos ou afastamentos, quando há amor forma-se um elo indissolúvel. Uma mulher em busca de sua irmã gêmea é o mote do livro O Cavalo de Lata (Rocco, 352 páginas), de Janice Steinberg, uma narrativa sensível do cotidiano de uma família comum, que guarda segredos e expõe conflitos.

Aos oitenta anos, Elaine Greenstein é uma aposentada que teve muito sucesso na carreira como advogada e está prestes a sair de sua confortável casa para uma instituição para idosos. Separando documentos da vida profissional, encontra caixas há muito esquecidas, recheadas de recortes da vida simples de sua família na comunidade judaica de Boyle Heights, em Los Angeles. Entre fotos e cartas antigas, depara-se com alguns folhetos sobre Bárbara, a irmã gêmea que fugiu de casa aos dezoito anos, abalando toda a família. As lembranças voltam fortemente num misto de dor, saudade e mágoa, além de muitas, muitas perguntas.

Elaine e Bárbara competiam, coisa comum entre irmãs. Apesar de muito ligadas, tinham personalidades opostas. E é nessa diferença que ambas se revelam, suscitando a ideia de que precisavam se libertar uma da outra para que tivessem suas próprias identidades. E foi isso que Bárbara teve a coragem de fazer: fugiu para encontrar sua liberdade, deixando tudo para trás. Elaine enxergava na irmã uma alma independente, uma mulher forte, bonita e sedutora, bem diferente de sua natureza introspectiva e dedicada aos estudos, alimentando o sonho de chegar à universidade. Sentia-se sempre em segundo plano, uma cópia sem graça comparada à presença ensolarada de Bárbara.
    "Eu compreendia, é claro, que a minha irmã gêmea e eu tínhamos personalidades diferentes, e já fazia muito tempo que havíamos definido diferentes interesses e amigos. Entretanto, nossas vidas eram tão interligadas (...). Mas na briga que acabáramos de ter (...) eu tinha sentido vestígios dos nossos eus adultos declarando quem era cada uma de nós, bem lá no fundo. (...) Outra coisa também tinha mudado. Eu tinha enfrentado Bárbara. Encontrara palavras que a tinham feito fugir da discussão. Essa experiência foi estimulante mas perturbadora."
Agarrada ao propósito de descobrir o destino da irmã mais de sessenta anos depois, Elaine começa sua busca pelas respostas que sempre a atormentaram: por que Bárbara fugiu e nunca mais procurou a família? Que teria feito da vida? Ainda pensaria nela?
    "Será que ela alguma vez voltou seu pensamento para Los Angeles e imaginou como eu estaria? Ou sempre ocupei um lugar muito mais secundário na vida dela do que ela na minha? Talvez nenhum lugar? Estou prestes a conhecer a resposta para esta pergunta. Eu não quero saber. Não quero me arriscar a descobrir que não significo nada para ela."
Agora Elaine precisará contar com a experiência dos anos de lutas e conquistas nos tribunais para lidar com seus medos. Enquanto planeja os próximos passos em direção ao paradeiro da irmã, duas décadas são revisitadas através de suas memórias. Volta ao passado conturbado para juntar os pedacinhos de sua vida ao lado da indecifrável Bárbara, conseguindo, enfim, compreender a menina que fora um dia e que tentava encontrar seu lugar no mundo. E que o construiu sozinha.
    "Bem, eu não sou mais uma criança, tremendo de medo no alto de um escorrega. Se disser a Josh que quero dar meia-volta agora, ninguém vai zombar de mim por ter me acovardado. Eu só queria não me sentir tanto como essa criança, minhas pernas bambas, minhas mãos e pés incapazes de obedecer as minhas ordens." (p. 323)
A narrativa intercala as décadas de 1920 e 1930 com o tempo presente. O texto é de um saudosismo comovente, a protagonista esmiúça os problemas da vida familiar e seus sentimentos ambivalentes de admiração e inveja em relação à irmã. A preferência da mãe por Bárbara (uma mágoa permanente), a influência da tia Pearl na formação das meninas, o avô Zaide e suas histórias, o amigo Danny e o amor dividido pelas gêmeas.

A autora acerta em cheio ao lapidar a pedra bruta do dia a dia familiar, revelando sua preciosidade. Quando disseca as personagens e apresenta ao leitor os sentimentos que carregam, os pensamentos que não ousam revelar, tornando-as tão humanas, temos a impressão que estamos ali, participando de seu mundinho particular. O pai, o avô, as irmãs mais novas e a tia de Elaine e Bárbara são encantadores, mas devo ressaltar a mãe das meninas, que deixa de ser coadjuvante em muitos momentos para roubar a cena com sua personalidade indomável e misteriosa.

Outro ponto relevante do livro são os momentos históricos que marcam a vida da comunidade, como o antissemitismo se espalhando pela Europa e a tensão antes da Segunda Grande Guerra, quando o jovem Danny, amigo e amor de ambas as irmãs, alista-se para lutar. Através desse personagem a autora discorre sobre o sionismo (movimento pela criação do Estado de Israel), além da vida do povo judeu na América.

A necessidade de reencontrar aquela que fora sua metade no ventre materno faz de Elaine uma personagem obstinada. Em alguns momentos me perguntei se não seria mais um capricho por sentir-se abandonada que uma verdadeira preocupação com o destino da irmã. Mas ela surpreende... até revelar-se grandiosa.

O Cavalo de Lata é um livro profundo nas questões humanas, nas implicações das escolhas feitas para o bem ou por omissão (não diria o mal). Além de esclarecedora (do ponto de vista histórico), esta leitura é terna e melancólica quando revisita o passado e abre uma caixinha de lembranças inestimáveis. Sobretudo é uma obra que, pela intensidade dos fatos, prende o leitor, que caminha lado a lado com Elaine na esperança do reencontro com Bárbara e no desejo de respostas. Porque a separação não implica o esquecimento. O amor que une as duas irmãs é um elo forte demais que se impõe ante as divergências.



Cortesia da Editora Rocco

Cearense, fisioterapeuta e mãe. “Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer. Leio com alegria.” Ariano Suassuna.

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24 comentários em "O Cavalo de Lata [Janice Steinberg]"

  1. Olá Manu,
    Adorei sua resenha. Mais um livro para minha lista...rs!

    http:livrosrocknroll.blogspot.com.br

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  2. Oi Manu!
    Esse livro parece muito bom mesmo. Além da abordagem histórica, o que mais me encanta é essa "dilapidação" dos sentimentos e das personalidades dos personagens. Livros que retratam o cotidiano familiar podem ser muito bem sucedidos (como parece ter sido o caso), pois há espaço para o desenvolvimento de temas bastante variados: conflitos, emoções (conflitante, inclusive), processos de escolhas e de crescimento, etc.
    Mais uma bela dica. Anotadíssima!!
    bjs

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  3. A capa e premissa já me chamavam atenção, agora com sua resenha estou ainda mais ansiosa pra ler. Já coloquei nos "desejados", agora é só esperar uma promoção bem legal e comprar :)
    A resenha ficou ótima, adorei as citações escolhidas. Parabéns.

    Beijo
    http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/

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  4. Oi, Manu. Não conhecia este livro ainda, mas parece ser muito bonito. Gosto de histórias assim, mais profundas, e já coloquei a obra na lista de 'quero ler'. Além disso, tem um certo mistério, o que, como você falou, deve envolver bastante o leitor. Adorei a resenha! Beijos

    www.secretfantasybooks.blogspot.com

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  5. oi Manu, mais uma vez você garimpa livros!
    a premissa deste é incrivel e sua resenha mais uma vez dispensa comentários!
    lendo-a fiquei apaixonada, todos os elementos que gosto estão presentes!
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  6. cara Manuh, por um bom tempo tive aquela vontade enorme de voltar a minhas origens. minha família por parte de mãe é italiana, por parte de pai eu nunca soube e acabei perdendo o ímpeto inicial. fui atrás de brasões, em sites sobre heráldica e tudo. a família de minha mãe, os "castagna brungnarotto" são do norte da itália, mais precisamente treviso, uma área rural. é o máximo que consegui, além de uma árvore genealógica até meus trisavós maternos. mais que isso só in loco. mas pra quê tudo isso? porque sua resenha me fez viajar novamente pra dentro de mim, o que já não é nenhuma novidade.
    diz a lenda que tenho um irmão, mas nunca conheci, nem tive notícias dele. então você já deve imaginar quão interessado fiquei pelo livro. outra coisa que me toca é o desfazimento do cuidado com os pais, sob o pretexto de que um "lar de idosos" tratará melhor dessa incumbência. e o amor?
    bom... e tem a pimenta, aquele algo mais que sempre me faz retornar a um livro: a gemelaridade. quem já teve perto irmãos assim sabe que eles têm uma linguagem própria, inacessível a nós, pobres mortais, rs. o que acontece quando são separados por si mesmos ou pelo destino?
    imagino um livro cheio de mágoas, com sentimentalismos ali na borda do penhasco, nos empurrando lentamente. fatalmente é um daqueles livros que deveriam morar em minha estante. você chegou primeiro e abriu o caminho, agora quero o livro também.
    e que título é este? belíssimo! mais uma resenha de um livro que caiu em mãos exatas, que sabem traduzir com emoção o que por ele perpassa. sorte nossa. sua resenha é maravilhosa!!!

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  7. oi manu :3

    tô esperando o dia que vou ler a sua resenha e pensar "poxa, não quero ler esse livro não" HUAEHUAHEUAEHUAEHUAE é muito impossível.
    se fosse só pela sinopse e capa, não leria O Cavalo de Lata, mas quando você citou que a autora deixa o enredo bem humano (propenso a fazer coisas certas/erradas, no ponto de vista do leitor) fui fisgada, vou dar uma chance pra esse livro sim \o/

    besos mamaizita
    www.livroterapias.com

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  8. Não li nada a autora ainda e esse livro parece ser ótimo. Gosto muito de livros que narram o cotidiano familiar. Fiquei muito curiosa em relação ao livro e espero ter oportunidade de ler.

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  9. Manuh,
    Adoro histórias que nos remete ao passado, principalmente as que abordam acontecimentos históricos. Creio que esse livro será uma grata surpresa para mim. Como sempre, suas indicações são super bem vindas.

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  10. nossa surpreendente a historia fascinante bem diferentes das que ja vi.. me vi na historia só pela a resenha quero muitoo ler ele :D

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  11. Manu!
    Fiquei me perguntando por que o título é O cavalo de lata? E achei a capa bem condizente com o enredo, passado no início do século XX, só aí, a meu ver já valeria a leitura.
    Agora em saber que a premissa é sobre o amor e laços familiares, sobre a essência de irmãs gêmeas se separarem por tanto tempo e não saberem de notícias uma da outra e as lembranças que são evocadas para se chegar ao paradeiro da irmã 'sumida', aguçou foi muito minha curiosidade.
    O livro a meu ver deve ser fascinante!
    cheirinhos
    Rudy

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  12. Oi Manuh!
    Fiquei curiosa amiga.
    Uma trama envolvente e permeada por fatos históricos é uma boa pedida!
    Bj!

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  13. "Porque a separação não implica o esquecimento"

    Nossa, que frase forte e verdadeira!
    Acho que a tua resenha defendeu brilhantemente o livro e me fez ter vontade de ler. Além de pensar que deve ser uma história sensível e reflexiva, amo tudo o que envolve história.
    Parabéns pelo texto, quando bem escrito como este, nos sentimos atraídas pela leitura do livro.

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  14. Oi Manu. Eu não conhecia a história deste livro, mas fiquei encantada com sua descrição. Adoro livros que contam histórias que se passam em tempos distantes, e com referências a acontecimentos que realmente aconteceram na época. Adorei.
    Beijos

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  15. Nossa já estava bastante curiosa em ler esse livro só pela capa, título e sinopse, depois de ver essa resenha fiquei ainda mais ansiosa pra conferi essa história super emocionante, parece mesmo ser excelente.

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  16. Gosto muito das suas resenhas, Manu, porque elas tem muita sensibilidade e tocam em aspectos realmente relevantes do livro. Quando uma história fictícia é permeada com fatos históricos acho que que só enriquece a trama e a traz para ainda mais perto do leitor, dá aquela sensação de que poderia mesmo ter acontecido. Com tanta história, tanta carga emocional, fiquei surpresa pelo livro não ter tantas páginas. Com todo esse enredo, poderia ser bem maior, o que prova que a autora soube contar a história na medida. Mais uma excelente resenha, Manu!

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  17. Olá, Manu.

    Não conhecia o livro e a sua resenha o apresentou de uma forma muito bonita. Mas mesmo assim creio que essa é uma leitura que não faria, não é meu forte. >.<

    Paradise Books BR

    Beijos.

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  18. Gostei muito da sua resenha, a história parece bem instigante, fora que o fato do livro narrar o cotidiano familiar e ter irmãs gêmeas me chamou bastante a atenção, pois tenho tias gêmeas e assim como no livro elas tem personalidades bem diferentes!

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  19. Nossa, que resenha!

    Fiquei muito curioso acerca da obra. Adoro livros que nos fazem pensar e descobrir um pouco mais sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca. Devo afirmar que esse livro agora encontra-se em minha lista de desejados :)

    Até logo,
    Sérgio H.

    www.decaranasletras.blogspot.com

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  20. Oi Manu! Sua resenha está incrível como sempre. Gostei bastante da premissa do livro e já fiquei super curiosa para saber porque a Bárbara fugiu e nunca mais tentou contato com a família. E claro, se as duas irmãs vão conseguir se reencontrar. Fiquei intrigada também com o nome do livro. Espero que tenha um bom motivo para esse título. Achei bem bacana abordar essa parte histórica do que estava acontecendo na época.

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  21. Oi, Manu!
    Sua resenha carregada de sentimentos fez com que eu me transportasse para o livro sem nem mesmo abri-lo para ler. Histórias com volta ao passado e que envolvem família, bem como conflitos, sempre me chamam a atenção. Fiquei bastante curiosa para saber se Elaine consegue descobrir onde está sua irmã e como se deu o encontro. E também saber o que Bárbara pensava, na época em que fugiu de casa, pois imagino que, assim como sua irmã, ela também deveria se sentir incomodada com algo. Gostei muito mesmo da resenha e tenho certeza de que essa é uma leitura emocionante e surpreendente. Ansiosa para poder lê-lo!

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  22. Ao ler sua resenha fiquei tentando descobrir se Elaine encontra a irmã ou não... espero que sim, ou pelo menos que ela consiga saber como foi a vida de Bárbara depois que saiu de casa.

    Eu questionei o fato de Elaine só agora, depois de tantos anos sentir essa vontade intensa de saber da irmã.
    A família? Nunca se interessou em achá-la?

    Espero que ao ler eu responda essas questões.

    Adorei sua resenha, Manu.
    Bjs.

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  23. Oie,
    O livro não é o tipo de gênero que gosto, mais achei super bacana o enredo e o conteúdo da resenha. Porém não me senti atraída pelo livro

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  24. Oi, Manuh!! Você deve imaginar que esse tipo de livro não faz muito o meu estilo, mas gostei bastante da sua resenha. Uma coisa que eu achei interessante nele foi essa parte histórica. Gosto dessas décadas de 1920/1930, e quando os autores ambientam nessa época, e ainda misturam ficção com fatos, a coisa tende a ser boa. Mais uma vez, mandou bem na resenha.

    @_Dom_Dom

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