Autopublicado pela primeira vez em 1999,
Os Sete é o primeiro volume da série
Vampiros do Rio Douro, do escritor brasileiro, roteirista, e diretor de cinema e de televisão
André Vianco. Um dos mestres nacionais de literatura de terror, romances sobrenaturais e fantasia vampiresca, Vianco alcançou, em 2016, o marco de mais de um milhão de exemplares vendidos. Recentemente, a Editora ALEPH fechou contrato com o autor, dando início à republicação de sua obra em uma roupagem totalmente nova.
Antes de adotar o Vianco como seu sobrenome artístico - homenagem à cidade de Osasco, mais precisamente à Rua Dona Primitiva Vianco - André começou a escrever profissionalmente para a rádio Jovem Pan na seção de humor. Tornou-se redator do departamento de jornalismo da rádio e por lá permaneceu por dois anos. Foi só em 1999, após ser despedido de seu emprego em uma empresa de cartões de crédito, que André decidiu arriscar-se como escritor, utilizando seu fundo de garantia para produzir 1.000 cópias de seu primeiro best-seller,
Os Sete, chegando mesmo a promover seu livro pessoalmente nas livrarias e editoras da cidade. Em 2001, a editora Novo Século interessou-se por seu trabalho e decidiu republicar seu livro, uma parceria que deu muito certo e deu origem à expansão das obras de
André Vianco.
A ideia de
Os Sete, na verdade, surgiu do primeiro romance de André Vianco,
O Senhor Da Chuva (também republicado pela editora Novo Século, em 2001). Apesar de se tratar de um romance de mitologia angelical, Vianco introduziu na trama um personagem vampiro, mas que segundo o próprio autor não havia sido explorado propriamente. Surgiu, então, a proposta de escrever um novo romance onde, dessa vez, os vampiros seriam os protagonistas.
No livro, três amigos (Tiago, César e Olavo) da pequena cidade Amarração encontram uma caravela portuguesa naufragada, no litoral do Rio Grande do Sul. Acostumados a mergulhar e procurar por tesouros, os três acreditam que a estranha embarcação pode ainda conter tesouros históricos que, por sua vez, podem ser extremamente valiosos. Ao mergulhar para explorar a caravela, os amigos encontram uma estranha caixa de prata, especialmente lacrada e com algumas runas desconhecidas em sua tampa.
Após realizar a captura de algumas imagens, Tiago e seus colegas decidem levar os arquivos para análise na Universidade Soares de Porto Alegre – USPA, onde esperam compreender melhor o estranho artefato. O assunto logo desperta o interesse dos pesquisadores da universidade, que decidem, então, iniciar uma expedição para retirar a caravela das profundezas do mar e explorar melhor seus segredos. Após um meticuloso trabalho, a misteriosa caixa de prata é finalmente retirada do fundo mar, e as runas em sua pesada tampa são finalmente decifradas:
“Nobres homens de bem, jamais ouseis profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demônios viciados no mal e aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos protejam.”
Orientados pelo professor Delvechio, os pesquisadores decidem violar a tampa da misteriosa caixa, ignorando completamente o aviso entalhado em prata. Dentro da caixa, sete cadáveres ainda em decomposição, conservando parte de suas mortalhas. O professor, então, decide iniciar uma série de estudos e testes, para descobrir a procedência daqueles espécimes, e tentar entender porque os sete corpos foram aprisionados dentro da misteriosa caixa de prata.
A descoberta logo ganha conhecimento da mídia, e toda a pequena cidade de Amarração fica em alvoroço, especulando sobre o caso. Entretanto, algo sobrenatural acontece. Um frio inesperado começa a começa a tomar conta do laboratório onde estão sendo realizadas as pesquisas. A princípio, acreditando se tratar de uma falha no sistema de refrigeração, o professor Delvechio e seus auxiliares se espantam ao perceber que o tenebroso frio não só parece emanar de um dos cadáveres, como o mesmo apresenta claros sinais de regeneração avançada. Em outras palavras: o cadáver está voltando à vida.
Assustados, os historiadores testemunham o corpo abandonar o estado cadavérico e assumir uma forma saudável, entretanto pálida, à medida que a temperatura no laboratório vai caindo cada vez mais. Ao final do processo, o português desperta e, com ele, um frio ainda mais sobrenatural. Ele é Inverno, um dos Sete Amaldiçoados, e está disposto a despertar seus outros irmãos (Acordador, Tempestade, Lobo, Espelho e Gentil) a qualquer custo.
Logo, o frio sobrenatural provocado por Inverno escapa as dependências do laboratório improvisado pelos pesquisadores da USPA, e se assola por toda a cidade de Amarração, dando margem para outros acontecimentos sobrenaturais: cadáveres erguendo-se de seus túmulos em busca de vingança, tempestades fora do normal e, claro, incontáveis mortes. Mas o pior de todos os perigos ainda não despertou: Sétimo, o Príncipe da Noite e o mais poderoso entre seus irmãos, que trará consigo um perigo inenarrável, para o qual nenhum de nós está preparado.
O best-seller de
André Vianco é um livro bastante prolixo, pelo menos até metade da história. A narrativa, em vários momentos, chega a ser arrastada e cansativa, e o autor perde tempo em detalhes e acontecimentos que não são tão interessantes para o leitor quanto à trama principal. Quem gosta dos livros do norte-americano Stephen King, com certeza vai se identificar com o estilo de narrativa de Vianco, que bebe da mesma fonte. Então, se você não gosta de narrativas minuciosas e repletas de descrições, talvez
Os Sete não seja o livro certo pra você.
Contudo, da metade para o final, o livro parece ganhar um novo ritmo. À medida que os outros vampiros vão despertando e revelando, cada um, suas peculiaridades sobrenaturais, a narrativa ganha força, dinamismo e ação, finalmente estabelecendo aquele gancho que te prende à leitura. Na verdade, é até compreensível que a primeira parte da narrativa seja um pouco mais lenta. Inverno e seu irmão Acordador estão distantes do mundo há 500 anos e, quando despertam em solo brasileiro, encontram uma terra completamente diferente de seu antigo Rio D’ouro. É natural, portanto, que os vampiros percam algum tempo admirando as funcionalidades da tecnologia e descobrindo como utilizá-la.
E por falar nisso, a descrição dos vampiros, na visão do autor, é bastante fiel ao já imortalizado pela literatura, pelos quadrinhos e pelo cinema. Temos aquela clássica versão do bebedor de sangue que foge da luz do sol e se isola na escuridão, e que vive única e exclusivamente para satisfazer seus próprios desejos e vontades. Com algumas raras exceções (como no caso de Gentil, que vive um eterno conflito entre se compadecer dos humanos e depender do sangue deles para sobreviver), os vampiros na visão de Vianco estão longe de brilhar na luz do sol ou participar de escolas e academias vampirescas.
O grande destaque, contudo, vai para Sétimo, o ultimo dos irmãos a despertar. Este, sem dúvida, é o mais próximo que Vianco nos apresenta dos vampiros como os conhecemos: criaturas desalmadas, cujo olhar frio e raivoso desperta o mais intenso nível de medo e tensão em nós. Ele é o mais poderoso entre os vampiros despertos, e o fato de saber disso só aflora sua natureza perigosa, insana, vingativa e sedenta por sangue. Diferente de seus irmãos, Sétimo não está nem um pouco preocupado em se conter diante dos humanos, e é o único que mata por prazer, não por necessidade, trazendo um desfecho de tirar o fôlego à narrativa.
Recentemente, a Editora ALEPH fechou contrato com o autor André Vianco, assumindo o compromisso de republicar boa parte de suas obras. A série “Vampiros do Rio Douro”, composta por
Os Sete,
Sétimo e a trilogia
O Turno da Noite, vai ganhar uma roupagem totalmente nova e adaptada ao nosso tempo, com o detalhe e o refinamento que a obra desse célebre mestre da fantasia merece. Inclusive, indico aos amigos do blog
Ler Para Divertir a entrevista exclusiva que o autor concedeu à ALEPH, falando um pouco sobre sua trajetória e o futuro de suas publicações.
Link:
https://www.youtube.com/watch?v=B4lzD4o4gLs
Sétimo já foi relançado pela editora ALEPH, também em 2016, e a expectativa deixada por seu autor ao final do primeiro livro aumentou ainda mais a sede por sangue de dar continuidade à leitura, e a resenha logo vai sair por aqui. Resta saber se Vianco vai conseguir superar os problemas do primeiro livro com a mesma desenvoltura que nos entregou o desfecho de
Os Sete.