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5.4.16

Wild Cards #01: O Começo de Tudo [George R.R.Martin]

George R.R.Martin
Ed. LeYa, 2013 - 480 páginas:
      Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a Terra é salva por pouco de um meteoro alienígena. Porém, o vírus que a bomba espacial carrega cai em Nova York e, gradativamente, espalha-se pelo mundo, contaminando parte da população e dotando parte dos sobreviventes com poderes especiais. Alguns foram chamados de ases, pois receberam habilidades mentais e físicas, alguns foram amaldiçoados com alguma deficiência bizarra e, por isso, batizados de coringas. Parte desses seres, agora especiais, usava seus poderes a serviço da humanidade, enquanto outros despertaram o pior que havia dentro de si.

Onde comprar:


Roleta-russa viral criando meta-humanos

Atualmente, o nome George R.R.Martin em letras garrafais na capa de um livro é sinal de venda líquida e certa, em outras palavras: sucesso. Ele é o mago por trás da saga “Game of Thrones”, no Brasil “As crônicas de gelo e fogo” (além de roteirista da série televisiva). Quem nunca ouviu falar que atire a primeira pedra.

A série “Wild Cards” me chamou a atenção pelo trabalho gráfico das capas – impecável. E pela proposta, já que ela se iniciou como cenário para RPG, criado pelo próprio George R.R.Martin, que passou a editar e escrever alguns dos contos desta salada muito bem temperada.

Resumidamente, em O começo de tudo – Wild Cards Livro 1 (Leya, 480 páginas), temos a explicação de como a liberação do vírus alienígena “carta selvagem” em nosso planeta influenciou a história da humanidade.

Em setembro de 1946, ao apagar das luzes da Segunda Grande Guerra, o herói condecorado conhecido como Jetboy é requisitado para resgatar uma suposta bomba biológica. Só que dessa tentativa mal sucedida acontece o pior, a liberação do vírus que instantaneamente se espalha pelo mundo. A maioria dos infectados morre, uns tornam-se “ases”, com poderes físicos e mentais, outros “curingas”, com poderes leves e deficiências grotescas.

A figura mítica e fantasmagórica do herói Jetboy (pai de todos os meta-humanos, por ter deflagrado o vírus) permeia os contos como elo de ligação entre eles, mesmo que ele mesmo não tenha sido afetado, portanto considerado “limpo”, não contaminado pelo vírus.

A partir daí uma quantidade imensa de informações é arremessada no leitor, misturando história e fantasia. É um livro cheio de referências norte-americanas, portanto mereceriam notas de pé de página (esta é a ressalva que faço). São personalidades, filmes, acontecimentos do pós-guerra que não tivemos contato, nem conhecimento. É preciso pesquisar.

Por outro lado, é possível ler o livro como entretenimento ou, na melhor das hipóteses, como questionamento de nossa posição social e filosófica. A dificuldade que temos em aceitar o que é diferente, o preconceito, a sociedade marginalizando ases e curingas em igual medida. Inúmeras vezes eu me pegava pensando o que faria se tivesse um poder qualquer. E se o infectado que adquirisse um poder fosse um usuário de drogas? E se uma bela modelo ficasse tão horripilante após a infecção que não conseguisse se olhar no espelho ou sentir seu próprio cheiro?

O universo dos ases pode ser terrível, mas não consegue chegar perto do sofrimento vivido pelos curingas, cheios de fealdade e completamente ignorados. Não são bem vistos pelos limpos e muito menos pelos abençoados (ou seriam amaldiçoados) com poderes:

“... estava realmente interessado em visitar o píer e experimentar o submundo triste da vida dos curingas... teria recusado, tanto por ignorância quanto por repulsa... Rostos horrendos... brigas de facas entre membros de gangues... Deformidade, desespero e drogas se misturavam aos cheiros de água salgada, graxa e peixe podre.”

Os contos vão se sucedendo, percorrendo 40 anos de história. Não há como falar de cada um deles, pois todos têm personagens únicos. Comecei a ler tendo em mente os X-Men, mas me deparei com algo mais contundente, vísceras expostas da cultura americana, com o olhar sarcástico, sexual e violento de George R.R.Martin:

“Encontraram Erika numa soleira de porta no fundo do beco, braços e pernas decepados, empilhados como lenha no colo, a cabeça presa ao corpo por menos da metade da espessura do pescoço. Fortunato podia ver as manchas do sangue bem fundo nas moléculas do concreto, ainda brilhando fraco com a essência da vida. A madeira do batente da porta ainda mantinha um traço de seu perfume, e um único fio de seu cabelo loiro acinzentado.”

E tem mais, muito mais. Descrições vívidas, mais parecendo pesadelos de um alucinado:

“A coisa que passa na minha janela tem uns dois metros e pouco, com braços de juntas triplas de aranha que balançam tão baixo que suas garras criam sulcos no chão de madeira maciça, uma feição de Conde Drácula e um focinho que lembra o Lobo Mau. Quando sorri, todo esse horror abre meio metro de dentes verdes pontudos. O desgraçado ainda cospe veneno, o que é um bom talento para se ter quando se perambula pelo Bairro dos Curingas à noite.”

O último conto é o meu preferido, já que temos um limpo todo Zen buscando vingança e tendo que enfrentar um ás de nome Cicatriz, que é a própria morte em pessoa. Isso mesmo, nem todo ás é bonzinho. Totalmente Tarantino.

Deu pra sentir o impacto que o livro carrega latente, esperando pelo paladar do leitor? Definitivamente é um livro de fantasia para adultos. Conheça alguns dos poucos ungidos pela marca do vírus. Combustível em combustão espontânea!

Rodolfo Luiz Euflauzino
Ciumento por natureza, descobri-me por amor aos livros, então os tenho em alta conta. Revelam aquilo que está soterrado em meu subconsciente e por isso o escorpiano em mim vive em constante penitência, sem jamais se dar por vencido. Culpa dos livros!
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29 comentários em "Wild Cards #01: O Começo de Tudo [George R.R.Martin]"

  1. Não li nada do Martin ainda, mas quero muito ler. Tenho vários na lista e essa série me chamou bastante atenção. Começarei a ler em breve.

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    1. faça isso Gislaine, mesmo sabendo que esta saga é escrita por várias mãos, a organização fica a cargo do grande Martin.

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  2. Só li o primeiro livro de As Crônicas de Gelo e Fogo do autor e gostei, mas a narrativa é mesmo cheia de linguajar explícito e violento...esse fato de termos que parar a leitura para pesquisar as referências não me agrada muito. Mas ainda tenho vontade de arriscar ler Wild Cards. Abraços :)

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    1. Dan, as "crônicas" são bem diferentes desta saga que está mais próxima do RPG. ainda assim tem uma pegada mais adulta mesmo, cheio de referências. com o tempo a gente toma gosto pelo ato de procurar, saber um pouco mais sobre história e muitas vezes filosofia. inicie a saga, você irá gosta. abração!

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  3. Ja tinha ouvido falar do série As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R.Martin, porem confesso que não li ainda, e apesar de estar na minha lista de leitura não é uma prioridade no momento.
    Eu amei a resenha, e ja posso afirmar que esse livro é o meu numero, vou com certeza dar uma pesquisada e quem sabe essa não seja minha próxima leitura.

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    1. cara Marlene, obrigado pelas palavras carinhosas. todo livro de Martin, salvo raras exceções, são bíblias enormes, verdadeiros tijolos que a gente acaba protelando por uma leitura muitas vezes mais rápida ou mais doce. mas quando a gente inicia não quer mais parar. vá por mim, leia algo de Martin, já já você vicia.

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  4. Olá Rodolfo. Confesso pra você que mesmo se tratando de um dos escritores mais falados e conhecidos do mundo, nunca me interessei ou sequer aquela pontada de curiosidade me bateu quando ouvia falar desse série. O motivo? Nem eu mesmo sei. Tenho aqui a série de As crônicas de gelo e dogo que comprei na Black Friday mas ainda não li nem o primeiro, um erro que quero consertar ainda esse mês, e agora lendo essa resenha sensacional sua, me vi curioso e quero saber Mais. Me atraiu pelo simples fato de envolver a guerra mundial.
    Estou aqui agora pesquisando feito louco sobre essa série, mas uma que vc me faz correr atrás desses livros para ter logo. É ainda estou aqui procurando sobre a série Roda do tempo que BRANDON sanderson terminou, essas duas vão ser as próximas que irei comprar.
    Resenha belíssima meu amigo. Um forte abraço. Só me tira uma dúvida? É uma série e cada livro são de contos? Ou é uma história sequencial?

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  5. Medo. Imagine a minha expressão lendo sua caprichada resenha... um misto de encantamento (vc usa as palavras de forma certeira e sedutora) e pânico (já me colocando nesse caos e tentando saber o que eu faria). Fiquei pensando e tentando escolher o que seria menos insuportável: ser um ás, um curinga ou ser limpa. Tudo me parece desesperador.
    Vc deve saber, com certeza, que não encaro uma dessas. Faltam imaginação e coragem, :p
    Mas pode acreditar: aceitaria ver um filme com esse roteiro, vai entender...
    Acho essa leitura bem ao seu estilo e admiro que vc consiga prender até o leitor que tem outros interesses, sua habilidade em transmitir a emoção do livro sem soltar spoilers ou me fazer duvidar do autor... admirável.
    Que bom ser leitora de suas resenhas, poder me aventurar por ambientes pavorosos assim sem colocar as mãos lá, ver outras possibilidades através do seu olhar. Meu amigo, vc é cinco estrelas.

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  6. George R.R.Martin tem me surpreendido com a diversidade de temas, inicia com um medieval, depois vai para algo mais sombrio tendo como protagonistas vampiros e agora mergulha no mundo dos mutantes. Mas uma coisa pelo que vi é certa, o toque da morte está sempre com ele, sem dó nem piedade. Eu sou doida pra ler seus livros, mas são sempre tão grandes, que irei terminar somente no fim dessa encarnação. No entanto, percebi que essa série iniciou com livros mais finos, só aumenta o numero de páginas a partir do 3º volume. Quem sabe eu leia, né?
    Adorei conhecer mais livros deste autor tão renomado, esperando a resenha do volume 2.
    Abs
    Ni
    Cia do Leitor

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  7. Rodolfo amado!
    Irrefutável se falar no sucesso dos livros (filmes) de George R.R.Martin.
    Me parece que a criatividade incomensurável do autor traz sempre fantasias carregadas de personagens com vida própria, fortes, além do caos ao redor e um enredo profundo que nos faz questionar muita coisa em nossas vidas de várias formas.
    Avaliação impecável.
    “A simplicidade é o último degrau da sabedoria.” (Khalil Gibran)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista especial de aniversário em abril: com 6 livros 5 ganhadores, participem!

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  8. Sou uma grande fã da série Game Of Thrones e dos livros do George Martin, já pensei várias vezes em ler essa série Wild Cards também, mas ainda não tive tempo. Depois de ler sua resenha perdi um pouco da vontade de ler, eu não imaginei que a história fosse assim. De qualquer forma é provável que um dia eu ainda leia, mas não agora.

    Abraços :)

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  9. Olá Rodolfo!!
    Mais uma resenha instigante como sempre.
    Do George R. R. Martin eu já li O Cavaleiro dos Sete Reinos que achei muito bom por sinal.Já tinha visto várias vezes Wild Cards O Começo de Tudo mas nunca havia me interessado nem em ler a sinopse.Agora com a sua resenha fiquei curioso.Porém com receio.Sinceramente acho o autor um sacana..estou com As Crônicas de Gelo e Fogo aqui e não me animo de ler por saber que ele ainda nem escreveu os livros que faltam.Fico com a impressão que ele começa um monte de séries e não caba nenhuma.Vou ficar esperando mais resenhas suas sobre Wild Cards pra ver se me animo em ler.Grande abraço!

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  10. Oi Rodolfo, tudo bem?
    Eu ainda não li nada do George, e não pretendo ler tão cedo. Acho que não estou preparado para tanto para sua escrita, quanto para os mundos que ele cria em seus livros.
    Eu também acho as capas dos livros dele maravilhosas, todas de chamar bastante atenção!
    Mesmo não querendo, preciso conhecer logo os mundos de George R.R. Martin!
    Abraços,

    Vinicius
    Omeninoeolivro.blogspot.com

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  11. Oi Rodolfo!

    De fato é impossível não saber quem é George R.R.Martin! mas eu confesso que sempre fiquei com receio de suas séries longas! E pelo fato dele matar muito personagens! Talvez seja essa minha oportunidade pra conhecer finalmente a narrativa do ator!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  12. Se entendi bem o livro é uma junção de contos que se conectam e contam a história? Gente, que legal isso! Eu estou lendo A Guerra dos Tronos e gostando bastante da escrita do autor e pretendo ler outros, inclusive esse da resenha. Realmente a linguagem dele é bem crua e também bastante viva, como se cada detalhe que ele escreve passasse bem diante dos seus olhos. E outro ponto positivo desse livro é essa parte que nos faz refletir sobre os preconceitos com o diferente, é bem interessante a proposta do livro.

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  13. Olá, tudo bem?

    Eu já li o primeiro e segundo Wild Cards, não dei continuidade pq não comprei as sequencias ainda, mas é um universo muito rico e variado. Eu também comecei lendo imaginando que seria algo nos moldes de X-men, mas é infinitamente mais complexo, e por isso, fascinante.

    única coisa que me incomoda um pouco é que alguns personagens tem histórias mais monótonas que outros, mas acredito que isso vai tb da empatia que desenvolvi por alguns deles, afinal, tem como não gostar do Poderoso Tartaruga? Eu queria ser ele, com certeza meu favorito!

    Abraço!
    http://leiturakriativa.blogspot.com.br/

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  14. Olá, Rodolfo.
    A premissa dessa obra é muito boa. Mistura um pouco de distopia e também ficção científica, o que me agrada. Ademais, esse desenvolvimento mais visceral com os coringas também me chama a atenção. Gosto quando a arte brinca com o grotesco.
    O único ponto que me incomoda é a falta de referências. Porém, acredito que seja um problema menor.
    Ótima dica.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de abril. Serão três vencedores!

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  15. Oie!
    Não conheço as histórias de Martin ainda, mas confesso que tenho uma grande curiosidade em ler seus livros, anotado na lista!
    Bjs!

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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  17. Eu pensei também que seria algo como X-men, bom saber que não é bem assim. Sua resenha seguiu a opinião que ouvi até o momento, o livro é bom, mas não tão bom. Sem dúvidas o nome do autor, em letras garrafais, tem como intenção justamente fazer o leitor comprar por causa dele e não pela a estória em si. Pelas resenhas, se eu fosse escolher um outro livro do Martin para ler, eu escolheria Sonho Febril.
    Parabéns por mais uma resenha incrível, bjs.

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  18. Não li nada do Martin ainda mas tenho um certo preconceito com ele, apesar de adorar livros de fantasia.
    Abraços,
    Garotos Perdidos
    http://www.garotosperdidosblog.blogspot.com.br

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  19. Já vi essa série,fique em dúvida se lia ou não,por ser do George R. R. Martin chama a atenção.
    Foi bom ver essa resenha,não sabia que eram contos tendo um personagem como elo de ligação.
    Diferente e dá pra ver que é bem visceral pelos trechos.

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  20. Oii! 480 paginas? isso é muito pouco pra ele hahahh eu acabei de adquirir dois volumes das cronicas de gelo e fogo e pretendo ler em breve, se eu gostar (provalvemente vou, todo mundo fala bem) e acabar a série(cade o proximo livro que nao sai?) eu pretendo ler essa serie wild cards sim. Nao conhecia esse livro, obg pela resenha :D

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  21. Oii! 480 paginas? isso é muito pouco pra ele hahahh eu acabei de adquirir dois volumes das cronicas de gelo e fogo e pretendo ler em breve, se eu gostar (provalvemente vou, todo mundo fala bem) e acabar a série(cade o proximo livro que nao sai?) eu pretendo ler essa serie wild cards sim. Nao conhecia esse livro, obg pela resenha :D

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  22. Ainda não li nenhum livro do George R. R. Martin e confesso que até hoje nunca tive interesse, essa forma violeta de narrar não faz muito meu estilo de leitura, mas achei interessante esse detalhe de poderes especiais e também me vi lembrando dos X-Men enquanto lia a sinopse rsrs.

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  23. Oi!
    Ainda não li nada do George R.R.Martin, mas quero muito conhecer a escrita do autor e vejo as pessoas elogiarem tanto, já tinha visto esse livro mas ainda não tinha parado para ver sobre o que era a historia e lendo a resenha gostei muito, o livro me surpreendeu positivamente e se tiver oportunidade quero ler !!

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