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20.11.18

A Pequena Caixa De Gwendy [Stephen King e Richard Chizmar]

Stephen King e Richard Chizmar
Ed. Suma De Letras, 2018 - 168 páginas
- "A pequena cidade de Castle Rock testemunhou alguns eventos estranhos ao longo dos anos, mas existe uma história que nunca foi contada... até agora. O universo misterioso e assustador dessa pacata cidadezinha do Maine já foi cenário de outros clássicos de King, como Cujo e A zona morta, e deu origem à série de TV da Hulu. Há três caminhos para subir até Castle View a partir da cidade de Castle Rock: pela rodovia 117, pela Estrada Pleasant e pela Escada Suicida. Em todos os dias do verão de 1974, Gwendy Peterson, de doze anos, vai pela escada, que fica presa por parafusos de ferro fortes (ainda que enferrujados pelo tempo) e sobe em ziguezague pela encosta do penhasco. Certo dia, um estranho a chama do alto: “Ei, garota. Vem aqui um pouco. A gente precisa conversar, você e eu”. Em um banco na sombra, perto do caminho de cascalho que leva da escada até o Parque Recreativo de Castle View, há um homem de calça jeans preta, casaco preto e uma camisa branca desabotoada no alto. Na cabeça tem um chapeuzinho preto arrumado. Vai chegar um dia em que Gwendy terá pesadelos com isso."

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Realizando desejos

Mais uma vez me deparo com um livro do mestre Stephen King, agora em parceria com Richard Chizmar, e novamente desejo tê-lo entre meus outros livros. King estava tendo certa dificuldade em concluir esta novela (vamos chamá-la assim porque é bem pequena para os padrões kinguianos) e Chizmar acabou sugerindo caminhos que o levaram a conclui-lo, com isso ganhou também a parceria.

Gwendy e sr. Farris - por Ben Baldwin
Sem sombra de dúvidas a edição de A pequena caixa de Gwendy (Suma, 168 páginas) é uma edição caprichadíssima. Capa dura, com ilustrações legais e acabamento impecável. A princípio compro todo livro em que esteja estampado o nome Stephen King na capa, sou fã e colecionador, mas admito que muitos irão achar o preço um pouco salgado. A escolha é sua, vamos ao livro!

Gwendy Peterson é uma garota de 12 anos que sofre bullying de alguns colegas por ser gordinha, além de usar óculos. Seu apelido é Goodyear (referência ao dirigível Goodyear), um apelido odioso dado pelo também odioso Frankie Stone. Mas ela resolve que irá emagrecer para ser vista com outros olhos quando voltar das férias. Para que isso aconteça coloca seu plano em prática: subir, todos os dias, inclusive aos domingos, a escadaria que leva até Castle View. São 305 degraus que no início a fazem chegar bufando, mas que vão se tornando menos cansativos com o tempo.

“— Foda-se seu pai e foda-se você. Eu te conhecia quando você não passava de uma porra de uma gorda feiosa. — Frankie aponta o dedo para ela como uma arma e sorri. — E vai voltar a ser, sabe? Garotas gordas viram mulheres gordas. Nunca falha. Vejo você por aí, Goodyear.”

Certo dia, durante uma de suas subidas, ela repara no chamado de um estranho – calça jeans preta, paletó preto, camisa branca, chapéu preto na cabeça, seu nome sr. Farris. Ele diz observá-la há algum tempo por acha-la especial. No princípio ela sente algum medo ou desconforto de estar falando com um estranho, mas logo isso passa. Ele lhe oferece um presente que ela reluta em aceitar, uma “caixa de botões coloridos”. Curiosa ela pergunta o que fazem estes botões.

“— Os botões são muito difíceis de apertar — diz Farris. — Você tem que usar o polegar e apertar com força. E isso é uma coisa boa. Acredite em mim: você não vai querer apertar nenhum por engano, não mesmo. Principalmente o preto. (...)
— Por quê? O que eles fazem?
— Vamos falar deles depois. Agora, preste atenção nas pequenas alavancas. Elas são bem mais fáceis de puxar que os botões são de apertar; seu mindinho basta. Quando você puxar a da ponta esquerda, ao lado do botão vermelho, a caixa vai liberar um chocolate no formato de um animal.”

Ele continua explicando o mecanismo de funcionamento do artefato, o que cada botão pode causar (realização de desejos) e o que cada alavanca tem a oferecer (uma libera um animal de chocolate que saciará sua vontade de comer, a outra libera um dólar de prata Morgan 1891, raro).


Ela aceita a “caixa de botões” e o estranho desaparece. O problema é que ela terá que fazer uso dela parcimoniosamente para não chamar a atenção e guardar segredo do presente para evitar a cobiça dos outros, afinal de contas a “caixa” é dela! Por aí já percebemos o quanto ela está envolvida.

“(...) Um pensamento ocorre a Gwendy (inédito em sua implicação adulta, que mais tarde vai virar uma verdade enfadonha): segredos são um problema, talvez o maior de todos. Pesam na mente e ocupam espaço no mundo.”

Gwendy, ou melhor, o corpo de Gwendy passa por inúmeras mudanças e todas pra melhor. Ela torna-se bela, não precisa de óculos e claro que ela sabe que isso tudo é fruto da “caixa”. Isso causa inveja e acaba por isolá-la de quem mais gosta.

Ela sabe qual o peso de carregar o destino do mundo em suas costas, sabe o poder que a “caixa” lhe confere e em uma aula faz à classe uma pergunta, instigada pela professora:

“— E se você tivesse um botão, um botão mágico, e quando apertasse pudesse matar alguém, ou só fazer essa pessoa desaparecer, ou explodir qualquer lugar em que você pensasse? Que pessoa você faria desaparecer ou que lugar explodiria?”

Stephen King e Richard Chizmar - foto Stephen King
Então... o que você faria? E este é o conceito desenvolvido nesta novela. Quando temos o “poder” nas mãos, nós o controlamos ou ele nos controla? Claro, isso já foi proposto inúmeras vezes, com temáticas bem parecidas, poderia citar aqui o clássico “Alladin”, “A pata do macaco” de W.W.Jacob, o mangá “Death Note” de Tsugumi Ohba. Mas creio que o autor se baseou no excelente conto “A caixa” de Richard Matheson de quem King já se confessou fã.

Como leitor assíduo e fiel do mestre eu esperava uma reconstrução legal, como ele já havia feito com vampiros, lobisomens, casas mal assombradas, cemitérios indígenas e por aí vai. Aliás, este mesmo tema já foi tratado em um livro denso dele que gostei demais – “Trocas macabras”, hoje um livro raro com preço mínimo exorbitante de R$330,00 no mercado negro, disputado a tapas entre os fãs.

Penso que o mais importante em um livro não é “o quê” se conta, mas “como” se conta, então não me importo que o tema já esteja batido, sempre podemos olhar por um outro ângulo. Só que desta vez achei que o mestre se perdeu e o parceiro não pôde ajudar. De alguma forma a novela não teve liga e acabou ficando fraca, sem muita inspiração. É uma pena, pois o mote dava margem a um grande enredo.

Mas isso não quer dizer que o livro seja ruim, não é. Só que sempre esperamos muito do mestre. Há quem diga que este livro é melhor do que seu gêmeo “Trocas macabras”. Aí entraremos no terreno da preferência pessoal e gosto cada um tem o seu. Livro recomendado para uma tarde de domingo (será lido no mesmo dia).


Rodolfo Luiz Euflauzino
Ciumento por natureza, descobri-me por amor aos livros, então os tenho em alta conta. Revelam aquilo que está soterrado em meu subconsciente e por isso o escorpiano em mim vive em constante penitência, sem jamais se dar por vencido. Culpa dos livros!
Cortesia do Grupo Companhia das Letras
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22 comentários em "A Pequena Caixa De Gwendy [Stephen King e Richard Chizmar]"

  1. Oi, Rodolfo,

    Essa premissa surpreende, pois é costumeiro que os livros do Stephen King englobem sempre histórias sombrias. Os ensinamentos presentes na obra sem dúvidas propaga mais do que o esperado para uma simples história.

    Sempre tenho certo receio em ler livros do autor - por não ser fã do gênero e ter medo -, mas esse livro me parece ser mais leve. Portanto, uma ótima oportunidade para adentrar nesse universo do autor.

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    1. cara Daiane, gostei deste livro sim, mas não é dos meus preferidos. é um livro pequeno, bom para se conhecer um pouco da escrita criativa do mestre, mas há trabalhos superiores a este. de qualquer forma é sempre bom ler King.

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  2. Oi Rodolfo

    Nunca li nada do Stephen King, porque nunca me interessei pelas histórias dos livros dele, apesar de saber que metade do mundo ama esse homem, HAHAHA Sou muito medrosa, então acho que isso contribui também para eu não ler os livros dele.

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    1. cara Theresa, há livros do mestre que não se enquadram no gênero terror, aliás é bem verdade que o mercado editorial tenta rotular os autores porque isso facilita na venda, mas pode ter certeza, King vai além de rótulos.

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  3. Como fã assumida do trabalho do Mestre King, aprendi com o tempo a não esperar nada de suas obras. Não, não falo pelo lado negativo, mas gosto deste jeito todo peculiar que só o autor tem de trazer o ser humano em seu lado sempre mais perverso...e o fator surpresa que o autor nos apresenta, é algo que prezo demais!
    Sem expectativas,mas com grandes surpresas..rs
    Pode ser batido, clichê..mas pow, é King! E com uma parceria de peso. Então? Está na lista de desejados e sinceramente? Queria uma caixinha destas..rs com suas consequências e tudo!
    Beijo

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    1. cara Flor, se você é fã do mestre então nos entenderemos. sua maneira de reagir às obras de King me surpreendeu, ao contrário de ti tenho o sarrafo bem alto nos livros dele, minhas expectativas são sempre as maiores possíveis, rs. e quanto mais clichê, melhor é o livro do mestre. quanto à caixinha somos dois a querê-la. fico só imaginando qual seria meu primeiro desejo. qual seria o seu???
      bjos

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  4. Nunca li nada do King, nem tenho interesse por conta do gênero que ele escreve, mas acredito que ele seja um escritor genial. Sempre leio elogios sobre ele.
    Essa capa é linda, sendo em capa dura então...
    Uma pena que ele não conseguido concluir esse livro de uma boa maneira, parece ter uma mensagem incrível e só faltava ser bem desenvolvida.

    Beijos

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    1. cara Ludyanne, se não tem interesse então não há como tecer muitos comentários. o que posso lhe dizer é que este rótulo é por conta de seus primeiros livros e ele mudou muito. bjos

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  5. Ola Rodolfo,
    Não a outra palavras a não ser "estranheza", a cabeça do King é cheia delas, rsrs.
    É um enredo muito original,mesmo que possa ser baseado em outra obra, a forma como os autores trabalharam, trouxe essa oeifinalidade, ao mesmo tempo nos deixa uma bela lição, é bem diferente, e eu gostei.
    Eu fico imaginando a dúvida que a protagonista causa no leitor, esperando o que ela fará com tudo o que tem poder de fazer, talvez por isso seja um livro que prende.
    Claro que desejo muito ler, olhei para a capa e não tinha gostado, até deixei passar batido o nome do King, agora desejo demais ler, rs!
    Nem tudo são flores não é? De qualquer forma, acredito ser um bom livro.
    Beijos

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    1. cara Vitória, estranheza é uma palavra curiosa para definir King, gostei. a originalidade da qual você cita reside na forma pela qual King se expressa. é um livro gostoso e rápido de se ler e ao contrário de ti gostei bastante da capa (dura). se deseja ler não perca tempo, é um King e King não deixamos pra depois, rs. bjos

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  6. Logo quando vi o livro pela primeira vez e li algo sobre ele, pensei em “A caixa” de Richard Matheson. Fui conferir o preço antes de colocá-lo na minha lista, até que encontrei um valor razoável na Amazon, a julgar pela qualidade da edição. Quero muito ler. Fico imaginando o que todos esses desejos não saiam de graça para a Gwendy.

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    1. caro Evandro, sua inferência foi perfeita. "a caixa" de Matheson é sem dúvida inspiração para este livro. aguardo sua leitura pra saber sua opinião. abraços.

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  7. Olá, Rodolfo
    Nunca li nada do King mas quero muito poder ler algo dele.
    Qual livro você indica para começar?
    Gostei da proposta dessa novela, mas penso que essa caixa poderia ser mais explorada. Tenho certeza que é uma boa leitura, quando se trata do mestre os leitores sempre esperam mais dele.
    Beijos

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    1. cara Luana, ainda há tempo para reparar esta sua falta rsrsrs. brincadeirinha. indico a todos que queiram embarcar no universo onírico de king o livro "quatro estações", ali temos todo talento bruto do mestre. bjos

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  8. Olá! Fiquei surpresa com o número de páginas, bem animador, gosto de livros que possam ser lidos mais rapidamente, realmente fica essa dúvida Gwendy controla a caixa, ou ela esta sendo controlada, e pior, quais serão as consequências para as escolhas que ela fizer.

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    1. cara Elizete, se gosta de livros ou pequenas novelas, este é ideal pra ti. leia também e depois me diga o que achou. não acho que este se o melhor do mestre, mas é um bom começo.

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  9. Oi Rodolfo!
    Sempre me deparando com mais uma obra do King que entrou para os meus desejados...
    Li poucas resenhas desse livro, algumas até um pouco negativas, mas nada que me tirasse a vontade de conhecer o enredo que parece ser bacana.
    Estou na torcida para que surja em breve uma oportunidade de ler e conhece a escrita do King...
    Bjs!

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    1. cara Aline, é um King e isso a gente não pode ignorar né?
      acredito que se vc ainda não leu nada do mestre este não seja um bom livro pra se iniciar, aconselho sempre "quatro estações", mas se tiver oportunidade de lê-lo também será legal. bjos

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  10. Oi, Rodolfo!!
    Gosto bastante dos livros do Stephen King, mas não conhecia essa história e mesmo que a tema abordado no livro seja considerado batido que em fã do mestre King ainda vai sentir aquela vontade louca de fazer a leitura dessa obra.
    Bjos

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    1. cara Marta, você disse tudo, não importa o tema, o mestre sempre é capaz de nos surpreender. bjos

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  11. Só li dois livros do King e adorei, mas tenho medo dos de terror, então acabo postergando as leituras.
    Essa novela parece ser muito boa. O tema é importante, e nos faz refletir sobre muitas coisas e como você disse, sobre o poder que recebemos e que por fim nos controla.
    Quero!!!!
    bjs

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    1. cara Ana, posso dizer que li a grande maioria dos livros do mestre. este livro está longe de ser um livro de terror, talvez pudesse classificá-lo como fantasia. é um livro saboroso e fácil de se ler. aventure-se também! bjos

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