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21.9.20

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes [Suzanne Collins]

Suzanne Collins

Cortesia da Editora Rocco
O peso de cada escolha

Antes de iniciar a resenha, quero deixar bem claro que não li a trilogia Jogos Vorazes, mas também não fui totalmente cru a este livro. Logicamente procurei ler um pouco a respeito de Coriolanus Snow, mas nada que me fizesse tecer conceitos ou preconceitos em relação a esta saga.

Em A cantiga dos pássaros e das serpentes (Rocco, 576 páginas) Suzanne Collins traz a juventude do controverso e brutal Coriolanus, a construção da personalidade que justificaria suas ações futuras. Porém, não consegui me conectar ao personagem, por mais que tentasse. Suas ações me pareceram dúbias, mal se encaixando na bipolaridade. Espero que os fãs da saga não me apedrejem.

Título: A cantiga dos pássaros e das serpentes
Autor: Suzanne Collins
Tradutor: Regiane Winarski
Série: Uma história jogos vorazes
Editora: Rocco Jovens Leitores
Gênero: ficção científica/distopia, política
Páginas: 576
Edição:
Ano: 2020
Onde comprar: Amazon

Antes de adentrarmos neste prequel faz-se necessário explicar o que são os Jogos Vorazes. Em determinado período da história os Distritos se revoltaram contra a Capital eclodindo em uma grande guerra civil. Esta guerra foi vencida pela Capital que como punição instituiu um tratado através do qual cada um dos 12 Distritos derrotados deveriam ceder dois jovens (através de um sorteio chamado de "colheita") todo ano para se digladiarem em uma arena até que reste apenas um.

“Haveria vinte e quatro tributos, um garoto e uma garota de cada um dos doze distritos derrotados, sorteados para serem jogados em uma arena e lutarem até a morte nos Jogos Vorazes. Estava descrito no Tratado da Traição que encerrou os Dias Escuros da rebelião dos distritos, uma das muitas punições dadas aos rebeldes. Como no passado, os tributos seriam colocados na Arena da Capital, um anfiteatro agora em ruínas que tinha sido usado para eventos de esporte e entretenimento antes da guerra, junto com algumas armas para que matassem uns aos outros. A Capital encorajava que as pessoas assistissem, mas muita gente evitava. O desafio era tornar o evento mais atraente.”

Até aí nada de novo. Oprimidos revoltados contra tiranos e o leitor no meio torcendo pela volta por cima dos rebeldes. Há certa similaridade com "Battle Royale" de Koushun Takami escrito em 1999, altamente recomendado (o autor japonês escreveu apenas este livro, que foi desclassificado do prêmio Japan Grand Prix Horror Novel por seu conteúdo polêmico e violento).

Explicado rapidamente o mecanismo dos Jogos e a dica de uma outra distopia no mesmo estilo, voltemos ao prequel de Collins. Coriolanus e sua família (que incluem sua prima Tigris, que faz de tudo para que ele esteja sempre alimentado e apresentável e sua avó, que ainda vive como se fossem uma família abastada) se encontram na penúria, vivem de aparências e do sobrenome Snow, mas perderam tudo durante a guerra civil.

O status de ser um Snow e seu excelente desempenho como aluno o qualificam a estudar na Academia da Capital, que poderia lhe conferir novamente a nobreza que lhe foi tirada. E mais que isso, nesta 10ª edição dos Jogos haverá uma novidade – cada tributo terá um aluno mentor e Coriolanus é um dos escolhidos para mentorear e caso seu tributo sobreviva caberá a ele um prêmio em dinheiro. Esse é o mote da aventura: Coriolanus como mentor de um tributo a ele destinado. Já na chegada dos tributos Coriolanus se mostra como alguém que pode vir a ter compaixão.

“Àquela altura, o cheiro azedo e forte de bosta do vagão tinha chegado a Coriolanus. Estavam transportando os tributos em vagões de gado que nem estavam muito limpos. Ele se perguntou se eles tinham sido alimentados e se puderam sair para tomar ar fresco ou se simplesmente os trancaram lá dentro depois da colheita. Do jeito como se acostumara a ver os tributos na tela, ele não tinha se preparado adequadamente para aquele encontro em carne e osso, e uma onda de pena e repulsa tomou conta dele. Eram mesmo criaturas de outro mundo. Um mundo desesperado e brutal.”

Mas não nos deixemos enganar. Ao longo do livro a personagem se mostra um misto de narcisista, psicopata e manipulador. É a grande tríade de quem nasceu para ser "mau". Ele é frio, só pensa em si, não consegue se colocar no lugar de outra pessoa, usa de seu charme e simpatia para conseguir o que quer. Enfim, é um processo de desumanização.

Coriolanus finge ser amigo de Sejanus Plinth, um rico herdeiro que não nasceu na Capital, é fruto de um dos Distritos. Coriolanus sente por ele aversão e inveja, acha que era ele quem deveria estar no lugar de Sejanus. O jovem, por ter vindo de um Distrito sente compaixão pelos tributos e pensa em defendê-los de alguma forma e Coriolanus irá se aproveitar desta "fraqueza" de seu amigo.

“Havia mais uma consideração. Ele possuía algo que Sejanus Plinth queria, e queria muito. Sejanus já tinha usurpado sua posição, sua herança, suas roupas, seus doces, seus sanduíches e o privilégio devido a um Snow. Agora, estava querendo seu apartamento, seu lugar na Universidade, seu próprio futuro, e tinha a audácia de se ressentir da boa sorte. De rejeitá-la. De considerá-la punição, até. ”

Essa é a visão de Sejanus sobre os Jogos Vorazes:

“— Não é. não! Não ligo para o que dizem. Vocês não têm o direito de fazer pessoas passem fome, de puni-las sem motivo. Não têm o direito de tirar a vida e a liberdade delas. Essas são coisas com as quais todo mundo nasce e não são suas para serem tiradas assim. Vencer uma guerra não lhes dá esse direito. Ter mais armas não lhes dá esse direito. Ser da Capital não lhes dá esse direito. Nada dá. Ah, nem sei por que eu vim aqui hoje. — Com isso, Sejanus se levantou e seguiu para a porta. Quando tentou abrir a maçaneta, nada aconteceu. Ele a balançou, então virou-se para enfrentar a dra. Gaul. — Estão nos trancando agora? Parece que temos nossa própria jaulinha de macacos.”

Para complicar a vida de Coriolanus o mesmo recebe como tributo uma menina franzina, Lucy Gray, do Distrito 12, o mais distante e miserável de todos. Ele se sente humilhado, arrasado e já sente o prêmio em dinheiro escapando por entre seus dedos. O que ele não espera é que a simpatia de Lucy possa vir a alterar todo o seu mundo.

“Mas Lucy Gray era seu tributo, a caminho da arena. E mesmo que as circunstâncias fossem diferentes, ela ainda seria uma garota dos distritos, ou pelo menos não da Capital. Uma cidadã de segunda classe. Humana, mas bestial. Inteligente, talvez, mas não evoluída. Parte de uma massa disforme de criaturas infelizes e bárbaras que ficavam sempre na periferia da consciência dele. Claro, se houvesse uma exceção para a regra, essa exceção era Lucy Gray Baird. Uma pessoa que fugia a qualquer definição fácil. Uma ave rara, como ele. Por qual outro motivo a pressão dos lábios dela nos dele deixou seus joelhos bambos?”

O amor, a paixão pode mudar alguém? Lucy Gray fará com que Coriolanus desobedeça as regras impostas nos Jogos ou isso já faz parte da personalidade deturpada de alguém que quer o "poder" custe o que custar? Essas e outras perguntas serão respondidas após cada uma das escolhas que Coriolanus terá que fazer para salvar a si e a quem ele tem afeição.

O livro não se resume a um romance ocasional, há dilemas éticos e morais e sangue, um bocado de sangue na Arena.

“Quando chegou ao alto do poste, Lamina ficou de pé e enfiou o machado no cinto. Embora a viga transversal não pudesse ter mais de quinze centímetros de largura, ela andou facilmente por ela até parar acima de Marcus. Ela se sentou na viga, travou os tornozelos para ter apoio e se inclinou por cima da cabeça machucada do oponente. Disse alguma coisa que os microfones não captaram, mas ele devia ter ouvido, porque seus lábios se moveram em resposta. Lamina se sentou ereta e avaliou a situação. Em seguida, se apoiou de novo, se abaixou e enfiou a lâmina do machado na parte curva do pescoço de Marcus. Uma vez. Duas. E, na terceira vez, em um jorro de sangue, ela conseguiu matá-lo. Depois de se sentar novamente, ela limpou as mãos na saia e olhou para a arena.”

Então, preparem-se para esta aventura em que o personagem principal busca autoconhecimento, mas prefere sempre o atalho preguiçoso do hedonismo ao caminho longo da sabedoria. Sempre digo que mais importante que "ter o que contar" é "como contar". Apesar de minha completa antipatia à construção de Coriolanus, Collins sabe como contar, do contrário não teria tantos fãs por todo o planeta.

21 comentários em "A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes [Suzanne Collins]"

  1. Eu também não li JV, nem assisti aos filmes.
    Tudo o que sei, é graças aos blogs e igs literários.
    Assim sei que A Cantiga de Pássaros e Serpentes foi muito aguardada por trazer a história do vilão mor da saga.
    Achei genial essa ideia da autora

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  2. Bem, eu li Jogos Vorazes e mesmo não sendo aquela fã enlouquecida, gosto muito da trilogia.
    Por isso, com esse lançamento, senti vontade demais de ler a história de Coriolanus e de tudo que ele passou até chegar ao vilão tão odiado de Jogos.
    Apesar de pensar que ele já tenha nascido malvado rs
    Tenho expectativas? Não. Muito amaram o livro, outros,nem tanto.
    Mas sim, espero ler!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  3. Oi!

    Nunca li/ assisti Jogos Vorazes. Não sei, nunca tive interesse. Pode ser que esteja perdendo uma boa história, pode ser que não esteja perdendo nada. KKK No entanto, não posso deixar de reconhecer que é uma oportunidade muito legal de entender um vilão melhor. Muitas vezes, ao escrever um livro, o autor não consegui demonstrar a profundidade de uma personagem, porque já seria um outro livro, que é como acontece nesse caso. Então, de qualquer forma, é algo bem legal para um fã da série.

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  4. Olá Rodolfo!
    Tenho lido muitas resenhas mistas em relação a esse livro, principalmente em relação ao amontoado de fan service que Suzanne Collins insere na narrativa para satisfazer o leitor.
    E por mais que seja interessante conhecer o passo do presidente Snow e retornar ao universo dos Jogos, é muito evidente que tudo é feito para que o leitor tenha associação com a trilogia anterior. A impressão que fica é a de que a autora sabia que o lançamento desse livro iria fazer sucesso, como se fizesse essa expansão pensando se não única, principalmente no lucro.
    Porém é inegável que o fãs irão adorar o livro, pois traz nostalgia.
    Beijos.

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  5. Oi Rodolfo!
    Fiquei me perguntando por que resolveu ler esse livro, se não leu nenhum dos anteriores?
    Embora saiba que para esse não seja preciso, porque acredito que fala mais sobre a infância e a vida do Coriolanus e de suas maldades ao longo do tempo, até chegar nos Jogos Vorazes.
    cheirinhos
    Rudy

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  6. Não sabia que era um livro a parte, achei que fosse uma espécie de continuação da série (mesmo não deixando de ser, né). Acho muito interessantes esses livros que servem para conhecermos melhor alguns personagens e o que os levou a tomar as atitudes que tomam. Também não li a trilogia e, sinceramente, nem faço questão de ler.
    Beijos

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  7. Acredita que eu nunca li nem nunca assisti nada desse universo? Eu não tenho nem o que falar, já ouvi falar, e quem não né, mas não sei exatamente do que se trata.
    Realmente, os fãs são muitos por aí né? Devem ter amado esse novo livro. Sua resenha foi bem sincera, confesso que não me animou pra iniciar esse livro ou conhecer esse universo.

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  8. Olá! Eu já li a trilogia JV e por isso, confesso, tenho certo receio em me aventurar nessa história, justamente por ela ter como personagem principal alguém que já sabemos que tem uma índole para lá de duvidosa, então acredito que quando eu ler o livro seja mais pelo fato de gostar bastante da escrita da autora do que pelo enredo em si.

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  9. Olá!
    Li a trilogia Jogos vorazes e adorei a Katniss Everdeen, Peeta ele é apaixonante, e eles são um casal fofo.
    Não odeio o Coriolanus, até simpatizo com ele. Será uma nova história.
    Sabendo que vai ser outro personagem principal nessa história, então tenho receio de ler e me decepcionar com a antiga história dos jogos.
    Você Rodrigo, nunca leu trilogia Jogos Vorazes, indico que você leia.

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  10. Olá,

    Eu gosto muito da trilogia de Jogos Vorazes, então estou com muita vontade de ler esse livro, apesar de já ter lido muitas opiniões diferentes sobre ele.
    Eu comprei o e-book, pois achei um dia em promoção, então to só esperando ler outros que estavam na lista antes.

    Beijos

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  11. Oi, Rodolfo! Bem, não conheço nada desse universo de Jogos Vorazes, por isso me senti um pouco perdida lendo a resenha. No entanto, deu pra perceber que Coriolanus é aquele tipo de personagem que causa desconforto. Apesar de não me interessar tanto a série, é legal saber que além do romance o livro aborda outras questões tbm.

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  12. Oi, Rodolfo!
    Assim como você não li a trilogia Jogos Vorazes, apenas assisti o primeiro filme mas não fiquei com vontade de ler os livros e nem assisti os outros filmes, deve ser por isso que não me recordo do Coriolanus Snow, mas pelos seus comentários se eu fosse ler esse prequel com certeza eu não iria com a cara dele, não costumo simpatizar por personagem manipulador, narcisista e psicopata... Mas é muito chato quando não conseguimos nos conectar ao personagem, ainda mais quando esse personagem é o protagonista do livro :(

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  13. Gostei de conhecer sua opinião, e é interessante que tenha separado o criador da criatura. Eu tenho muita vontade de ler esse livro, ainda mais pela chance de conhecer melhor o Snow; fico me perguntando se vou gostar dele, o que acho bem difícil. Mas a escrita da Suzanne é incrível, né? Sabe como construir uma história.

    Abraços

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  14. OLA
    então eu não li a trilogia jogos vorazes e acho que não lerei até porque não faz muito o meu estilo de leitura .estou vendo resenhas equilibradas sobre esse livro ,nem tantas resenhas positivas nem tantas resenhas negativas .
    parabens pela sua resenha ,muito bem explicada .

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  15. Olá Rodolfo!
    Adoramos odiar Coriolanos Snow rsrs. Ledo engano pesar que esse livro vai nos fazer gostar um pouco mais desse detestável sujeito, não acho que ele seja capaz de amar. Só acho que você perdeu muitas referências ao não ler a trilogia inicial, por exemplo a Tigris aparece nela também. Interessante conhecer esses personagens e como foi a trajetória dos Jogos. Já simpatizei com Sejanus. Estou ansiosa para ler esse livro.
    Beijos

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  16. Oi, Rodolfo
    Ainda não li Jogos Vorazes, apenas assisti os filmes. Gosto muito de Katniss e Peeta.
    Nesse ano comprei os livros e assim que der vou começar a ler.
    Coriolanus Snow é um personagem cruel, mas nesse livro a autora quis mostrar como ele era desde jovem. E mesmo que possa ter algum traço de bondade nele, ele sempre será amargo.
    Beijos

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  17. Já saber de que lado da força nosso protagonista está me deixa dividida em relação a essa leitura, por um lado, gosto bastante de conhecer um pouco mais dos nossos vilões e já sou fã da série, por isso, ao mesmo tempo que estava empolgada com mais da história, acabei ficando decepcionada a maneira que a autora escolheu para fazer isso.

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  18. eu so assisti os filmes, não posso nem falar sobre :(
    Quero mt adquirir os livros, e esse também , que ja me cativou demais!

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  19. Oi Rodolfo,
    Cheguei a ler a trilogia dos Jogos Vorazes na época do lançamento, não sabia desse prequel A cantiga dos pássaros e das serpente, mas não me empolguei tanto em conhecer, mas para quem é fã é sempre bom se aprofundar e conhecer a história por outras perspectivas.

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  20. Assisti ao filme Jogos vorazes, mas para a leitura não rolou, pois é meu estilo para filme apenas. Numca li nada da Suzanne Collins, mas pelo seu estilo de escrita, não me desperta muito, mas se tiver o filme assisto com certeza.

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  21. Sou muito fã da trilogia, chegando a ler os 3 livros em 3 dias kkkkk, também gosto dos filmes. Sinceramente eu não tenho nenhuma vontade de saber a história de Snow e vou passar Essa leitura.

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