No rastro do mestre
Mais uma vez mergulho com vontade numa leitura do mestre Stephen King. Não tenho pudores em chamá-lo assim. Este não é seu primeiro livro não ficcional, já li também “Dança macabra”, um calhamaço que gostei mais, mas isto não me impediu de saborear este.
Sobre a escrita (Suma, 255 páginas) é um livro sobre “dicas” a escritores iniciantes ou não, a leitores curiosos, mas também é sobre memórias, que nos dá pista sobre como King chegou à “sua” escrita ou o porquê ele “precisa” escrever. Há referências próprias do inglês americano, mas em sua grande maioria o livro pode ser lido e aproveitado em sua totalidade.
Título: Sobre a escrita: A arte em memóriasOnde comprar: Amazon
Autor: Stephen King
Tradutor: Michel Teixeira
Editora: Suma
Gênero: Autobiografias
Páginas: 259
Edição: 1ª
Ano: 2015
Para quem gosta de uma boa aventura, um livro “não-ficção” pode ser bem maçante, uma tortura. Isso afugenta quem quer diversão. Porém, até em um livro assim, o velho e bom King, consegue subverter o que foi pré-estabelecido. Ao nos apresentar suas justificativas e ídolos, o faz como um exímio contador de histórias que é: cativante e magnético. Puro deleite!
De onde vêm as ideias? Sua resposta é simples e direta:
“(...)Somos escritores, e nunca perguntamos um ao outro de onde tiramos nossas ideias; nós sabemos que não sabemos.”
É claro que anotei os livros e as dicas do mestre. Poderia resumir este livro em “omita as palavras desnecessárias”, seria um bom começo.
Neste livro King nos conta como funcionam suas memórias e é como se estivéssemos lendo um de seus livros: linguagem coloquial, quase uma conversa de esquina, mas não sem um toque de horror:
“(...)A minha (infância) é um terreno nebuloso, em que lembranças ocasionais brotam como árvores solitárias... O tipo de memória que parece ter a intenção de pegar e devorar alguém.”
Não quero aqui reproduzir todas as dicas, quem quiser sabê-las deverá ler o livro e extrair o máximo dele. Mas preciso transcrever algumas passagens, deixá-las gravadas. Comecemos então pelo tio Oren, que ensinou ao sobrinho e futuro escritor o que é necessário no dia em que precisou de uma mãozinha para consertar uma tela:
“Quando a tela estava firme, tio Oren me mandou colocar a chave de fenda de volta na caixa de ferramentas e depois “passar os cadeados”. Foi o que fiz, mas fiquei intrigado. Perguntei por que ele carregara a caixa de ferramentas de Fazza pela casa toda se só precisava de uma chave de fenda. Ele poderia ter levado a chave de fenda no bolso de trás da calça.
— Podia, Stevie — respondeu ele, inclinando-se para pegar as alças —, mas eu não sabia se teria mais alguma coisa para fazer quando chegasse lá, não é? É melhor ter sempre as ferramentas consigo. Se não tiver, pode ser que você encontre alguma coisa inesperada e desanime.”
— Podia, Stevie — respondeu ele, inclinando-se para pegar as alças —, mas eu não sabia se teria mais alguma coisa para fazer quando chegasse lá, não é? É melhor ter sempre as ferramentas consigo. Se não tiver, pode ser que você encontre alguma coisa inesperada e desanime.”
E quais seriam as ferramentas? O vocabulário (o pão da escrita); os elementos de estilo (evite a voz passiva e advérbios – essa me atingiu, adoro advérbios, rs); gramática, ritmo e o dom (talento). Mas não é tudo, é preciso determinação:
“(...)Às vezes é preciso perseverar, mesmo quando não se tem vontade, e às vezes você está fazendo um bom trabalho mesmo quando parece estar sentado escavando merda.”
Importante o mestre frisar que a história, a situação, deverá vir primeiro, nunca o enredo:
“(...)O enredo é tosco, mecânico, anticriativo. O enredo é, penso eu, o último recurso do bom escritor e a primeira escolha do idiota. A história advinda do enredo está propensa a ser artificial e dura.
A situação vem primeiro. Os personagens..vêm depois... Geralmente tenho uma ideia do possível final, mas nunca pedi a um grupo de personagens que fizessem as coisas de um jeito. Pelo contrário, quero que façam as coisas do jeito deles...”
A situação vem primeiro. Os personagens..vêm depois... Geralmente tenho uma ideia do possível final, mas nunca pedi a um grupo de personagens que fizessem as coisas de um jeito. Pelo contrário, quero que façam as coisas do jeito deles...”
É interessante vê-lo discorrendo sobre como suas personagens tomam forma e sobrepõem seus enredos:
“Nunca gostei de Carrie, a versão feminina de Eric Harris e Dylan Klebold — os adolescentes responsáveis pelo massacre de Columbine —, mas através de Sondra e Dodie consegui, pelo menos, entendê-la um pouco. Tenho pena dela e também de seus colegas, porque muito tempo atrás também fui um deles.”
Quem conhece a história de Carrie sabe que ela foi vítima de bullying feito pelos supostos amigos, mesmo quando isso ainda não era fruto de um estudo aprofundado. O mestre confessa que também já participou de brincadeiras que poderiam ter magoado seus colegas.
O massacre de Columbine é uma ferida aberta na carne americana, mas antes ainda houve algo parecido e que afetou profundamente o escritor — Michael Carneal atirou em um grupo de orações de jovens em Health High School, Kentucky. — Dentro do armário do estudante foi encontrada uma versão de “Fúria”, novela com um alto teor de violência, escrita pelo mestre. Por causa disso King proibiu sua republicação (passando a ser um item raro e com preço estratosférico para colecionadores), por acreditar que a mesma poderia servir de fio condutor para a violência.
Voltando ao livro, quero dizer que King, em momento algum se intitula um grande escritor e esta sua humildade nos aproxima dele, ainda mais se tratando de um cara que já vendeu milhões. Resumidamente ele diz existir escritores ruins, bons e excelentes, uma verdadeira pirâmide, exatamente nesta ordem. Tem consciência que se encontra entre os bons, nunca será excelente. E deixa claro que todo escritor que se preze deve ler muito e escrever muito:
“A boa escrita, por sua vez, ensina ao escritor aprendiz sobre estilo, narração elegante, desenvolvimento de enredo e criação de personagens críveis, e também sobre como dizer a verdade. Um romance como As vinhas da ira pode gerar a boa e velha inveja e levar o novato ao desespero — “Nunca serei capaz de escrever algo tão bom, nem que viva mil anos” —, mas tais sentimentos também podem servir como estímulo, motivando o escritor a trabalhar mais e mirar mais alto...”
Enfim, e aí percebo que valeu cada minuto da leitura deste livro, vem uma afirmação coerente de quem consegue atingir o coração de qualquer leitor através da palavra:
“... A língua nem sempre usa gravata e sapato social. O objetivo da ficção não é a correção gramatical, mas fazer o leitor se sentir à vontade e, depois, contar uma história... Fazer com que ele esqueça, sempre que possível, que está lendo uma história. O parágrafo de uma única frase lembra mais a fala que a escrita, e isso é bom. Escrever é seduzir. Falar bem é parte da sedução. Se não fosse, por que tantos casais começariam a noite jantando e a terminariam na cama?”
O mestre, através de suas criações, tem a arte e o dom de nos seduzir e por isso é idolatrado pela grande maioria de leitores que sentem que suas histórias não são sobre medos, assassinos, fantasmas, mas sim sobre “pessoas”. Vida longa a Stephen King!
Rodolfo!
ResponderExcluirConfesso que não costumo ler livros de não-ficção, mas aqui estamos falando de nada mais nada menos do que um dos maiores autores da atualidade, não é verdade?
King é meu autor preferido justamente porque faz qualquer coisa se tornar interessante, o que não é diferente aqui. Além de dar dicas valiosas para quem está ou quer seguir uma carreira de escritor, Stephen mostra ao leitor um lado pessoal, e sabemos muito bem que o autor passou por muitas situações na vida que inspiraram as histórias de seus livros. Um exemplo óbvio é o alcoolismo, tema muito recorrente em suas obras.
Acredito que todos devem dar uma chance a essa obra.
Beijos.
Sempre admirei o trabalho do King mesmo tendo começado a ler suas obras recentemente. Super concordo com o título de Mestre.
ResponderExcluirSobre a Escrita conheci através da minha booktuber fav e me interessou muito, como leitora e admiradora do autor.
Olá, Rodolfo
ResponderExcluirSempre tive vontade de ler algo do Stephen, mas nunca tive a coragem. KKKKK
Esse parece ser muito interessante, já vi muita gente elogiando, muitos escritores até.
Como estou numa vibe de não-ficção, talvez eu leia ele
Beijos
Realmente, acho que ninguém vai reclamar desse título que ele recebe. Não sou de ler muitas autobiografias, mas algumas valem a pena, principalmente para o principal público alvo dele né? Os escritores que estão no início devem ter recebido um grande presente.
ResponderExcluirDeve ser maravilhoso acompanhar essas dicas e de certa forma entender um pouco como ele mesmo é um autor tão renomado :)
Aaah, Stephen King, tenho muita vontade de conhecer a escrita dele, há tempos, não li ainda por falta de dinheiro, não por medo, sou uma pessoa bem corajosa.
ResponderExcluirÉ quase uma autobiografia esse livro, que é muito importante para os novos escritores, ter essa obra do King como exemplo para escrita dos seus livros.
Rodolfo!
ResponderExcluirTenho esse livro na estante já há algum tempo e sempre pensando em achar o momento certo para fazer a leitura, porque espero aprender muito com ele.
Vixe! Gosto muito de usar advérbios também... acho que nunca conseguirei ser uma escritora...kkkk
Fato é que qualquer livro do mestre, sempre vale a pena ser lido e esse que dá dicas e referências para quem almeja ser escritor ou já o é, deve ser uma leitura bem diferente dele.
cheirinhos
Rudy
Eu só chamo King de Mestre e com muito orgulho!É sem sombra de dúvidas um autor que gosto demais, demais e sempre(mesmo não dando de acompanhar o tanto de livro que ele escreve) ler tudo que ele nos traz.
ResponderExcluirAinda não li esse livro em particular, mas de quebra, li e ouvi muito a respeito dele. E oh, pegar dicas do Mestre assim, quase na faixa não é pra qualquer um não!!!
Espero ainda ler para aprender um pouco mais!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Oi, Rodolfo! Vc não poderia descrever melhor a escrita de Stephen King. Magnetismo puro! Eu sou fã de seus livros, mas ainda não li suas obras não ficcionais. Dança Macabra é o que mais quero ler. Como apreciadora do gênero terror, esse livro desperta mto minha curiosidade. Sobre a Escrita parece conter dicas valiosas para quem almeja esse universo de contar histórias. Vida longa ao mestre!
ResponderExcluirOi, Rodolfo!
ResponderExcluirFiquei super feliz de ver uma resenha do King por aqui. Ainda não tive oportunidade de ler nada dele, apenas comecei a ler O Iluminado, mas PDF me cansa demais, então retomarei a leitura quando tiver o físico, mas até onde li, eu amei a escrita. É daquelas que simplesmente fluem.
Já tinha visto esse livro por aí e não me interessei, justamente porque não é uma ficção, mas lendo sua resenha percebo que é um livro muito interessante quando o leitor já leu várias obras do King, porque aí fica mais claro os processos de criatividade do autor. De qualquer forma, acho que é um livro bem válido.
Olá, Rodolfo
ResponderExcluirNão li nada do autor, mas acompanho muitas pessoas que indicam King sempre. Tenho vontade de ler, espeto um dia ter oportunidade.
Esse livro o autor trás muitas memórias e dicas para o leitor que já é escritor, começando a escrever, que pretende começar escrever ou só que quer ler mesmo. E lendo essa resenha parece que o autor conversa conosco.
Beijos
Sigo sem ter lido nada do King, mas a cada resenha eu percebo o quanto o cara é um gênio - vou tentar ler algo dele em breve.
ResponderExcluirSobre esse livro, achei a interessante essa premissa, parece uma boa leitura tanto para quem quer começar na escrita tanto para quem é fã do autor e quer conhecer esse início dele.
Abraços
Sou doida para ler algo do King, finalmente decidi por qual começar, mas tenho enrolado um pouco. A premissa desse livro é boa, parece ser bem diferente dos outros que ele já escreveu. Os quotes são ótimos!!
ResponderExcluirBeijos
Olá! Além de ser um ótimo livro para se obter dicas sobre a escrita, parece que também é uma boa maneira de conhecer um pouco mais sobre esse escritor fantástico, que é um verdadeiro mestre em nos entregar enredos para lá de assustadores, mas que também podem ser reflexivos e que sempre têm muito a nos ensinar.
ResponderExcluirOLA
ResponderExcluirnunca li nada do autor ,estou com um livro dele A espera de um milagre aqui esperando para ser lido.
sei que é um autor talentosissimo ,mas não gosto de terror .e que legal que ele tem essa humildade .importante isso . gostei de saber disso .,porque sabemos o quanto de fãs ele tem e ainda é chamado de mestre
Oi, Rodolfo!
ResponderExcluirA parte sobre memórias não me interessou tanto, mas gostei da parte de "dicas” a escritores iniciantes ou não, e olha que eu não costumo me interessar por livros de não ficcional rsrs...
Não conhecia esse episódio sobre Michael Carneal e o livro Fúria do autor, é bem compreensivo a atitude do King, em proibir a republicação 👏👏
Enfim, valeu pela dica, se a oportunidade surgir lerei sim Sobre a Escrita. Bjos!
Olá Rodolfo!
ResponderExcluirEu gostaria muito de conhecer a escrita do autor e acho que esse será o livro perfeito, por não ser de horror. Apesar de a leitura poder ser um pouco desanimadora como você falou no começo, acho que as dicas serão valiosas, até mesmo para entendermos o processo de criação de outros escritores. Os quotes que você selecionou são bem interessantes, adorei o tom de prosa, assim nos conectamos mais com o livro. Muito triste mesmo esse episódio de Health High School, penso que o autor não deveria se culpar, mas entendo porque ele o faz.
Beijos
A parte que eu mais gostei é saber que mesmo se tratando de King, aqui não encontraremos o seu tão conhecido e elogiado terror e que o livro serve para nos mostrar um pouco mais da história desse grande autor, que não é à toa conhecido por mestre.
ResponderExcluirTenho muita curiosidade em ler esse livro e conhecer um pouco do processo de escrita do mestre King, tentar saber como ele se tornou o maravilhoso escritor que é hoje em dia. Deve ser ótimo ler suas memórias e saber o que se passava na cabeça dele enquanto escrevia algum livro, onde ele aprendeu tudo isso.
ResponderExcluirEstá na minha lista de desejados para aproveitar o máximo possível.
Sempre quis ler uma obra dele! Infelizmente são tão caras... a primeira será o clássico it, depois cemitério de animais... e a terceira essa!
ResponderExcluirComo dizem "vivendo e aprendendo", com King é mais ou menos assim, cada vez aprendemos com ele. Fiquei surpresa com a história do massacre, e fico imaginando como o autor deve ter se sentido com tudo isso. E Sobre a escrita é um livro diferente, gostaria de ler e tirar as curiosidades que fãs sempre tem.
ResponderExcluirOi Rodolfo,
ResponderExcluirGostei dessa mistura com dicas para escritores envolvendo memórias, afinal memórias do King são um bom caminho para conhecer e se espelhar, não é mesmo?
Já pelos trechos fiquei curiosa, a reflexão sobre o processo da escrita é interessante, esse estilo de obra de não ficção chama minha atenção.
De não ficção eu geralmente corro, mas King é rei e por isso Já fiz uma secessão pra ler esse livro. O fato de ser curtinho e ter indicações de livros que ele curte também ajuda bastante.
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