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20.4.17

[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXI - Invasores Devem Morrer

André Luis Almeida Barreto


Engenharia Reversa


Parte XXXI - Invasores Devem Morrer


A medida em que a nuvem de fumaça se dispersa, o estrago provocado pelo impacto do Fantasma torna-se mais visível: a maioria dos tanques e robôs de combate foram destruídos, mais da metade dos soldados morreram e os que sobraram se arrastam pelo campo desolado, somente um punhado de robôs ainda está de pé. A onda de choque varreu os bairros periféricos da cidade, provocando desabamentos e avariando vários imóveis, o granito, que antes parecia indestrutível, não aguentou o turbilhão de energia liberado pela explosão do reator da nave.

Na sala de comando, dentro do fortificado Ninho do Gavião, os monitores são tomados pelos dados de telemetria, pela lista imensa de baixas e por mensagens desesperadas dos militares em campo. Os homens do coronel Fabrício tentam disfarçar o crescente pânico, afinal, nenhum deles chegou de fato a entrar em combate. O coronel observa atento os monitores, recebendo cada chamado dos homens em campo. Ele sabe que não pode deixar transparecer o mínimo de insegurança, precisa ser o exemplo para seus homens.

Maestro, Bel e Davi olham para os monitores como se esperassem por algo, compartilhando da mesma torcida, a torcida de que, finalmente, Amanda tenha morrido. Maestro está visivelmente ansioso, pois o sinal que instalará no sistema dá Rainha de Fogo havia desaparecido, então, para a completa decepção do deletador, o sinal reaparece com força total. Bel e Davi notam a transformação no rosto do homem, e Davi perde o interesse na transmissão funesta, mas Bel continua olhando, cada cena a deixando mais triste por dentro, até que ela vira o rosto, perdida no chão.

O coronel Fabrício remove os fones de ouvido, seu rosto está pálido, mas ainda assim ele é a cara da autoridade, se aproxima dos regentes, em posição de respeito:

- Perdemos noventa e cinco porcento do segundo batalhão. O coronel Savastti, bem como todos os seus oficiais, morreram na explosão. Boa parte das guarnições da muralha foram perdidas, os danos na fortificação são irreparáveis - ele faz uma pausa -, vamos ter que reconstruir. Aproximadamente cem civis estão feridos, e já foram encontrados os primeiros corpos. Além disso, a nave invasora destruiu um veículo striker identificado como Lobo do Deserto, que era justamente o veículo em que eles viajavam!

"Minha nossa, ela destruiu o Lobo! Será que... será que Samuel está vivo?" - indaga Bel.

"Provavelmente, não. Uma pena, mas ele sabia dos riscos. Nossas chances ficaram ainda menores" - responde Maestro.

Bel fica transtornada, Davi exibe uma expressão de tristeza.

"Como se já não bastassem tantas mortes" - lamenta a biocomputador.

"Não foi culpa sua. Amanda o matou, Amanda matou todos esses homens" - consola Maestro.

De repente um forte rangido corta o ar, e um dos regentes se eleva acima dos outros, transtornado, ele fuzila os prisioneiros, encarando-os com seus olhos leitosos.

- Não podemos arcar com mais nenhuma baixa! Devemos banir esses forasteiros. Ela - aponta para Bel - não é uma dádiva que caiu aqui por acaso, venerável Sharem, essa coisa é a emissária da desgraça, e a portadora da morte, a responsável por toda essa destruição! Baní-los para a Terra Maldita, é o que devemos fazer.

- Prezado Gotlieb - diz Sharem, agora tão elevada quanto o regente do comércio - se descobrirmos os segredos dela, ataques como esse jamais aconteceram; se descobrirmos os segredos dela, poderemos aprimorar nosso exército e expandir nosso território. Mas, se nos livrarmos dela, continuaremos estagnados no mesmo patamar.

- Sharem tem um ponto - concorda Baltazar, o regente da sociedade.

- Como vê, Gotlieb, são dois votos a um. Não haverá banimento - conclui Sharem, altiva.

Um pico de raiva irrompe no rosto do coronel Fabrício, e ele não consegue se conter:

- Veneráveis, perdão, mas não posso ficar calado diante da carnificina que acabamos de presenciar...

- Eu tentei te avisar, coronel - diz Bel, olhando para Fabrício.

- Cale-se! Devemos executar todos os prisioneiros! As mortes de tantos não pode ser em vão! - afirma Fabrício.

Subitamente, um novo alerta invade a sala, voltando o foco para os monitores. Um dos operadores amplia a imagem, revelando o que parece ser uma mulher vestida em uma armadura negra. Ela se move vagarosamente porém com determinação, se aproximando dos robôs de combate sobreviventes.

- Minha nossa! Como ela sobreviveu a queda? - indaga um dos operadores.

De repente, a invasora empreende uma corrida em direção aos robôs, uma espécie de lâmina brilhante pode ser vista projetando-se de seu braço direito, e com ela, a mulher desmantela os mecânoides de combate, um a um. Soldados desnorteados abrem fogo, mas os primeiros tiros são detidos por algum tipo de escudo energético. Insaciável, ela avança contra o punhado de homens e os trucida com sua lâmina, só parando quando o último tem o tronco partido ao meio.

Os operadores parecem não acreditar nas imagens que acabaram de ver. Os homens do coronel Fabrício são tomados pelo medo, e ele, por um ódio crescente. Sharem explode em fúria:

- Coronel, reúna todos os batalhões! Destrua aquela mulher imediatamente, invasores devem morrer!

- Vocês não fazem ideia do tamanho da encrenca em que se meteram - diz Davi, atraindo os olhares assustados dos soldados, mas sendo ignorado pelos regentes e pelo coronel.

- Imediatamente, venerável - responde Fabrício. Ele sinaliza para alguns homens que o acompanham para fora da sala, mas muitos soldados ainda permanecem, incubidos de vigiar os prisioneiros.

Assustado, Maestro estabelece um link de comunicação com Bel.

"Nosso tempo acabou. Se a situação se complicar, destrua os sistemas, cause o máximo de confusão que conseguir. Eu vou dar um jeito de te tirar daqui, você e o Davi."

"Maestro, eu tenho uma ideia. Quando entrei nos sistemas, detectei uma vasta malha de torres de comunicação."

Bel e Maestro cruzam olhares.

"Por favor, continue" - responde o deletador com interesse crescente.

"E também detectei que o Brasil está próximo. Posso enviar um pedido de ajuda, eles poderiam enviar uma nave para nos resgatar, será possível?"

Maestro quase deixa escapar um pequeno sorriso.

"Excelente ideia, mas garante que a transmissão não será interceptada?"

"Sim, eles nunca vão descobrir."

"Perfeito. Você terá que utilizar meu código de acesso, diga também que Nova Esperança está sob ataque da VNR."

Bel concorda com um leve balançar de cabeça. Em instantes recebe o código de Maestro. Segundos depois entra no sistema de comunicação, onde o fluxo de dados está quase derrubando a coisa toda. Rapidamente ela localiza o terminal de uma antena, esconde seus passos e entra no transmissor, o sistema é antigo, mas a arquitetura não mudou muito ao longo dos anos. Ela envia a mensagem para o circuito, se surpreendendo com a facilidade. A resposta não tarda a chegar, traduzida em uma voz masculina que ecoa na mente de Bel: "Alfa Congo vinte e três, mensagem recebida. Ficamos contentes em receber sua resposta, tenente Pedro." Bel fica animada, talvez, em fim, eles vão escapar de Amanda. "Então Pedro é o nome dele.", ela sorri.

"Sua mensagem foi transmitida, tenente Pedro" - diz Bel, olhando para Maestro com curiosidade, alheia a tensão que toma conta da sala.

O coronel desce as escadas correndo, deixando seus comandados para trás. Ao chegar ao pátio, encontra um pequeno de grupo de jipes e caminhões. Com um pulo ele embarca no jipe da frente.

- O quinto e o primeiro batalhão estão seguindo para a zona de combate, senhor. Os outros batalhões estão sendo mobilizados - diz o soldado ao volante do veículo.

- E os esquadrões de caças?

- Abastecendo. Devem decolar a qualquer momento.

- Ótimo. Leve-me para a zona de combate imediatamente!

***

Amanda estanca, em meio aos corpos e pedaços de metal, ela se apoia nos joelhos e respira fundo. Confere os dados da armadura: energia em sessenta por cento, recarregando a taxa de dois quilowatts por minuto. Olha em volta, vê o sol ganhando força no céu sem nuvens, paredes de fumaça se erguendo cada vez mais altas. O barulho do fogo queimando madeira, plástico e borracha a envolve por completo, e, ao longe, os alarmes ainda gritam pelas ruas. Ela ativa seu sensor biodigital, e com ele esquadrinha a cidade buscando pelo peculiar padrão de ondas emitido por Bel. Então o sistema aproxima sua visão de uma grande torre localizada a quilômetros de distância de sua posição atual, o sensor indica a presença de vários seres vivos no lugar, e um pequeno quadrado verde marca um deles em especial, indicando que o alvo foi localizado.

Começa a se mover velozmente em direção a cidade. Pega o rifle de assalto de um coldre nas costas. Automaticamente a arma se ativa, reconhecendo o DNA de sua dona. Então, a uns quatrocentos metros das primeiras construções, seu radar emite um sinal de alerta. Por entre os prédios uma linha de blindados se revela, o som dos motores ganha volume, encorpado pelo ruído das lagartas mecânicas percorrendo o piso de granito. Atrás dos blindados, o contingente de dois batalhões de infantaria, dois mil e trezentos soldados, reforçados por duzentos robôs de combate e veículos lançadores de mísseis. Como se fosse uma única criatura disforme, o exército se movimenta de forma a envolver Amanda, a engoli-lá, executando uma grande manobra de flanqueamento. Então uma esquadrilha de helicópteros de guerra surge sobre o contingente, dois caças supersônicos cortam o céu, passando pela esquadrilha e executando uma passagem rasante sobre a Rainha de Fogo.

Os sinais de alerta pipocam por todo o campo de visão de Amanda, forçando-a a desligar os alarmes. Ela examina o inimigo; o exército é tão grande que quase preenche todo o horizonte a sua frente. "Primitivos, mas são muitos", pensa.

Então, subitamente, as tropas param de se mover. Um dos helicópteros se aproxima, abaixo dele, um alto-falante é ativado:

- Você violou um pacto de cem anos. Entregue suas armas e prepare-se para ser rendida. Caso contrário, sentirá a fúria da Divisão Gavião.

Amanda aponta seu rifle para a aeronave, destrava, atira. O projetil atinge o alvo em segundos, explodindo o helicóptero no ar, mas dando tempo suficiente para a grito de desespero do oficial que deu o aviso ecoar até os ouvidos dos milhares de soldados.

https://www.facebook.com/engenhariareversalivro

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André Luis Almeida Barreto
Aspirante a escritor, inquieto por natureza, ainda tenho vontade de mudar o mundo ou pelo menos colocar um monte de gente para pensar. Viciado em livros, games, idéias loucas e sempre procurando coisas que desafiem minha imaginação.

17 comentários em "[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXI - Invasores Devem Morrer"

  1. André!
    Ando bem curiosa por saber uma coisa: você vai publicar esse livro?
    É que acho tão criativo e tem pouca ficção tão boa e criativa como a sua, acredito que venderia bem.
    Sucesso!
    “Compreender que há outros pontos de vista é o início da sabedoria.” (Campbell)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP COMENTARISTA ABRIL especial de aniversário, serão 6 ganhadores, não fique de fora!

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    1. Oi, Rudy, vamos ver se as editoras vão querer né, rs. Obrigado, abraço!

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  2. Esse capítulo esta cheio de acontecimentos, mortes, destruição e tem ação, adoro tudo isso, fiquei curiosa para saber como termina pois a Amanda esta arrasando de certa forma, esta indestrutível, bom não torço para o vilão sempre fico do lado do bem, mas ela esta demais rs.

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    1. Rs, pois é, a Amanda daria um livro a parte. Obrigado, Maria.

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  3. Oi André.
    Adoro quando tem os capítulos por aqui, esse foi cheio de ação, como já comentei aqui por diversas vezes, você é realmente muito talentoso, te desejo muito sucesso.
    Bjs.

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  4. Oi André, tudo bem?
    Mesmo não tendo conseguido arrumar tempo para ler os episódios anteriores, fico de boca aberta com a sua escrita. Parabéns!
    Quem sabe nas férias eu consigo ler né.
    Beijos
    Quanto Mais Livros Melhor

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    1. Obrigado, Priscila. Se conseguir ler será maneiro. Beijos.

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  5. Olá André! Capítulo mto bom, ansiosa pra ler o próximo e saber o que irá acontecer com Amanda depois de td isso...
    Bjs e parabéns!

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    1. Oi, Aline. Amanda ainda vai dar muito trabalho! Obrigado, bjs.

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  6. Olá, André!!
    Nossa, cada vez que leio os episódios, fico mais curiosa para saber o que acontece.
    Louca para saber o que vai acontecer depois de tudo isso...
    Abraço!

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    1. Oi, Maria. Obrigado pelo comentário! Acredita, ainda tem muita coisa para acontecer.
      Abraço.

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  7. Ainda quero arrumar um tempinho pra ler essa bookserie, pois pelo que li parece ser recheada de ação e cenas eletrizantes.
    Se for publicar na Amazon, vou esperar até ter o livro completo.

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  8. Olá!!! Capítulo cheio de ação hein... mas afinal, estamos próximos da conclusão da história ou teremos mais acontecimentos? Confesso que torço para que ocorram muitos eventos ainda... abraços e até o próximo capítulo.

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  9. Olá André!
    Gente quanta ação! Está maravilhoso, estou de boca que ela derrubou o helicóptero! Muita coisa ainda esta por vir e estou curiosa para saber o destino da Amanda.
    Beijos

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  10. Olá,
    Faz tempo que não vejo um capitulo novo, amei esta recheiado de ação, de varios acontecimentos, fiquei tão curiosa com Amanda o que será que esta por vir em???
    Amei!

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  11. " - Vocês não fazem ideia do tamanho da encrenca em que se meteram - diz Davi..."
    Concordo com o Davi, eles não fazem ideia, essa mulher é porreta! Já disse a você antes mas volto a repetir, não tenho o costume de simpatizar por vilões mas a Rainha de Fogo é um dos meus vilões preferidos, parabéns pela construção desse personagem marcante!
    Abraços.

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